Resposta aos mitos mais disseminados sobre as lésbicas
Por Lilly Queers
MITO #1: As lésbicas sentem falta de “algo mais” no relacionamento delas, por isso elas sempre querem um homem para fazer um “a três”.
Se as lésbicas sentissem falta de um homem, elas não seriam lésbicas. Não é porque não tem uma coisa num relacionamento, que esta coisa necessariamente faz falta. Por exemplo, se vc é um hétero japonês, e namora uma hétero branca, vocês necessariamente sentem falta de pênis negros ou coxas latinas no relacionamento de vocês? Ah, não? Vocês estão felizes com o que têm? Olha só, que coisa!
MITO #2: As lésbicas só gostam de mulher porque são muito feias para conseguir um homem decente.
É interessante como, dependendo da informação que se tenta espalhar sobre as lésbicas, elas podem ser ou muito feias ou muito atraentes! Neste mito em particular, a idéia é que “se fulana fosse mais bonita, conseguiria um homem”. Sim, claro, como se os homens fossem todos lindos e maravilhosos, e só as pessoas bonitas se relacionassem.Se fosse assim, os homens feios seriam todos gays também, é isso? Você mesmo não conhece nenhum heterossexual que não seja extremamente charmoso e gostoso?
Então você, hétero que está lendo este texto agora, pode me confessar que, naqueles dias em que você tava se sentindo meio estragado, no dia que aquela pessoa te deu um fora, você considerou verdadeiramente mudar a sua sexualidade, de uma hora para a outra?
MITO #3- As lésbicas – e os gays – são infelizes porque nunca poderão ter filhos
As pessoas, SE têm vontade de ter filhos, dão um jeito de ter filhos. Se muitas vezes acontece de uma hétero engravidar SEM QUERER, imagina-se que uma lésbica que QUER MUITO não vai ter dificuldades impossíveis. Ou seja, não é difícil conseguir sêmen para uma inseminação artificial : amigos, doadores anônimos, às vezes até familiares. Daí vem uma grande polêmica, porque isto estaria “desestruturando a família tradicional”. Na verdade, ainda existem muitas famílias “tradicionais” no mundo para prevermos sua extinção, e como já se provou que a orientação sexual não é uma doença transmissível, as pessoas mais tradicionais não precisam se preocupar em como “prevenir ou curar”a homossexualidade, mas como “conviver respeitosamente” com ela.Além disso, convenhamos que para um casal de lésbicas- ou de gays- ter um filho há dificuldades que são difíceis de transpor, e quem o faz é porque realmente deseja ter um filho para amar, não para maltratar ou desestruturar.
MITO #4- Se uma pessoa é gay ou lésbica, é porque teve uma família desestruturada ou uma criação ruim.
Todo mundo tem uma sobrinha meio lésbica; todo mundo tem um tio solteiro que tem um amigão do peito há 10 anos e vai sempre visitá-lo em outra cidade, ou uma tia que você não consegue nem imaginar casada com um cara. Todo mundo tem alguém na família que, se não é assumido, sentimos que está no armário. Então a sua família é desestruturada? Os pais dos meus amigos LGTTB são todos héteros e bem empenhados na educação de seus filhos, e sobre o tal “mal exemplo” familiar, um dos gays mais gays que eu conheço é filho de um pastor da Universal. E ele não é o primeiro e nem o último.
MITO #5- As lésbicas querem ser homens e os gays querem ser mulheres.
Isso é uma confusãozinha que é compreensível que se tenha,mas rapidinho dá pra esclarecer: uma coisa é o gênero com que a pessoa se identifica: o gênero masculino ou o gênero feminino, sua imagem física, sua vestimenta, seu comportamento. Outra coisa é a sexualidade da pessoa, ou seja, para quem esse desejo é direcionado.
Por algumas razões, nos fizeram acreditar que só haviam dois gêneros que tinham sexualidades únicas: as mulheres se atrairiam por homens, e vice versa.
Acontece que nem todo mundo se encaixa neste padrão, por isso há, na natureza dos animais e dos homens, múltiplas sexualidades.
Assim, uma lésbica é uma mulher que se identifica com o gênero feminino e se atrai também por mulheres.
Um gay é alguém que se identifica com o gênero masculino, e se atrai também por homens.
Daí podemos ver que não só há esses dois outros tipos, mas muitos outros : as travestis, os transexuais de feminino para masculino, as transexuais de masculino para feminino, as pessoas que se atraem por ambos os sexos, os intersex, que têm ambas características sexuais e/ou de gênero, etc.
Infelizmente, tudo que é diferente sofre. Quando, na antiguidade clássica, achávamos que os indivíduos de verdade eram só homens ricos, as mulheres e escravos sofriam MUITO, ninguém levava eles a sério ( Inclusive,curiosamente nesta época, o sexo entre homens era comum e não era tabu). Quando, com a ajuda da igreja católica, decidimos que só os brancos tinham alma, os negros eram MUITO maltratados.
Agora, nos sentimos muito mal desse passado ridículo da nossa humanidade, pois é ÓBVIO pra nós que as mulheres e os negros são tão humanos e dignos quanto qualquer um. No momento, quem está sendo tratado como inferior são as pessoas que não pertencem àquela norma sexual chamada “binária” ,ou seja, uma lógica de dois pólos apenas: o polo masculino que gosta de mulher e o polo feminino que gosta de homem. É mais uma daquelas violências históricas que só a informação pode evitar.